quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Björk - It's Oh So Quiet

Por tantos dias precisei conversar, precisei entender, mas se não aconteceu antes é porque não era pra ser... 2012, bem, num tem sido um ano de novas alegrias, alias, tem sido um ano bem ruim, bem difícil.

Não sei lidar com a perda, mas isso já é um fato notório há anos, mas a idéia de que o Eneas tinha tido um enfarto e que eu podia perdê-lo, bem isso fez com que muitas coisas consideradas “certas” fossem novamente questionadas.

O centro é o meu eixo de bom, lugar ao qual eu posso voltar de onde estiver pois a luz me guiará, o ponto é que se essa luz não existir, é como se o norte muda-se de lugar, me sentiria desorientada.

Sei que muita coisa mudou, em mim, no centro, em tudo, as pessoas, as sensações, os gostos, tudo está diferente, mas ainda sinto que é lá, conturbado, confuso, intenso, complexo, mas é lá. E também é lá aonde eu quero ficar, estar e para onde voltar.

Enfim que foi apenas um susto imenso, ele operou, fez duas pontes de safena e se recupera bem.. Não estou pronta para seguir sem ele, se Deus me deu um pai, foi o Eneas, o Pai Thomaz, quase me dou ao direito de acreditar em qualquer coisas quando ele diz.

Digo quase, porque há muito tempo algo se quebrou dentro de mim, esse negócio de confiança cega num existe mais. Uma pena. A gente cresce, isso nos torna, bem a mim pelo menos, mais amarga, prática, quem sabe até infeliz. I don´t know.

Depois uma nova notícia ruim, o André Penin, pessoa que eu tinha como grande amigo, devido as nossas horas de conversa foi assassinado. A sensação mais forte nessa morte para mim foi a de impotência, incapacidade de mudar algo, injustiça, não que eu quisesse que outra pessoa morresse, eu só num queria que fosse ele.

É difícil explicar as coisas que senti, fui justa o tempo todo, avisei até meus “inimigos” do ocorrido, de forma imparcial, como se fosse pelo André, a vontade dele acima da minha. Confesso que foi um sentimento novo, imparcialidade.

Talvez num fosse capaz de fazer de novo, talvez a única pessoa que me motivaria a me “anular” e fazer o quer é certo, seja aquela que agora está enterrada e morta. Ainda vem uma sensação estranha ao dizer que ele esta morto. Quase que como uma pontada, mais um tijolo no muro que me cerca.

Depois teve aquela loucura, exames e mais exames para constatar que sou apenas louca, (risos), porque mais uma vez eu quis passar por isso, parece que esse padrão sempre se repete, mas dessa vez por algum motivo, louco, insensato, desesperado, eu olhei bem nos olhos dele e disse:

- eu te amo.

Não sei descrever o que senti, foi uma “explosão de sabores”, em sua maior parte sabores amargos, quase uma mentira, quase um desejo de que fosse verdade, quase o que eu queria que fosse, é estranho dizer que eu não o ame, pois de certo modo em certo aspecto, de certo ângulo, as avessas, se eu não o amasse, porque escolhê-lo para ser único?

Não tenho a resposta para essa pergunta, acho apenas que a resposta:

-Se cuida!

Foi definitivamente um ataque a minha auto-estima, sentido de auto-preservação, amor próprio, ego, vaidade, foi o momento em que o fio de prata se quebrou, algo ali foi perdido. Irrecuperável.

Fora a tal Camila, nome que me amaldiçoou alguns dias, tolas crianças, no final somos apenas peças do quebra cabeças de um jogo muito maior, mas esse episódio aonde ela entrou definitivamente é a deixa aonde eu saio. Não estou disposta a brigar, lutar e não querer o real prêmio.

Há muito tempo eu já havia pesado a situação, nada mudou até essa infeliz frase e a conclusão já era: eu não quero isso pra mim, por mais que eu num consiga largá-lo, eu também não o quero pra mim. Desejo do fundo do meu coração que aquele sorriso largo sempre esteja lá, que ele seja muito feliz, mas a primeira é por conta da casa e essa foi a segunda meu caro, essa foi a segunda vez, acho melhor pararmos por aqui enquanto todos ainda estão sorrindo.

Por hora acho que é isso, muito fundo para continuar a nadar... não hoje... not today!
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No mesmo quarto, agora vazio, sentado numa cadeira de frente a uma mesa redonda, iluminada por uma vela, sozinho, refletindo em voz alta, dedilhando as páginas de um livro marrom espesso, empoeirado:

Destino: – Não existe maneira real de protegê-la, seus caminhos estão traçados, suas curvas nunca serão suas retas, está tudo escrito, não há outro caminho, então porque ela volta passos e mais passos para trás? Estaria ela buscando uma falha? Mas que tipo de falha poderia mudar o destino? Que em outrora nada mais seria do que a minha vontade? E por que nem eu acredito que essa seja a minha vontade? Ela luta tão fortemente, quase me compadeço daquela pequena. Mas o destino não volta atrás, se voltasse, seria por ela, é com certeza, seria pelo sorriso dela...

Sandman – No seu mundo as coisas são imutáveis, mas no meu não, deixe-a ir ao meu encontro e ao de Morpheus, liberte-a!

Como um raio de luz intensa atravessando o local abre-se a porta, na direção da vela um vento forte quase a apaga, mas em um gesto tão lento e concentrado, ao mesmo tempo em que fecha o livro, o Destino segura a vela em suas mãos impedindo que ela se apague, então docemente ele sorri.

Destino: – Não pode mais um homem divagar sozinho nessa terra?

Sandman: – Não pode uma mulher moldar-se a ponto de ter uma segunda audiência com o Destino?

Destino: – Não sei do que fala, seja claro.

Sandman: - Mais claro, do que surpreendê-lo revendo o livro que você mesmo escreveu, procurando uma falha, a criança não é tola, se ela esta andando para trás, é sim porque achou uma falha, ninguém volta tão longe a toa, ela viu algo.

Deleite: – Na verdade ela procura apenas a razão, enlouqueceu como todos nós, não entende, não aceita, está em uma guerra contra todos nós, note, como ela tem ficado sozinha, deslocada, ela está perdida. Ela tentou seguir o plano, apaixonar-se, mas algo a impediu de sentir, estaria algum de nós por de trás disso? – aumentando seu tom de voz como que dando uma ordem, aos poucos todos foram se revelando a meia luz da vela, aproximando-se da mesa.

Não é possível descrever quantos estavam na sala, ou como eles eram, a sensação de gritos, ruídos, sussurros, parecia que todos estavam se questionando, se acusando, se defendendo. Em meio aquela confusão, Deleite começa a contorcer-se em feixes de luz fazem com que todos fiquem cegos por instantes, quando a doce e delicada voz da Delirium toma a atenção.

Delirium: – Ela dorme, não façamos barulho, ela dorme, enquanto ela ainda dormir, quem sabe Morpheus pode arrumar as coisas, shhhhi, ssshhhiii...

Como se fosse um único sussurro todos afirmam:

– Ela ainda dorme, shhhi!

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